3.4.10

Cantada

"...Depois de ter você
Para que querer saber,
Que horas são?..."


Só depois ela se recordou que não estava cantando o que tanto havia ensaiado, isso não era rock´n´roll, era uma música brasileira, que ela conhecia pouco, mas que tanto gostava.
Por que não o esquecia?
Por que?
Não! Agora era hora de se concentrar em sua guitarra e seus arranjos, não poderia ficar ali pensando em besteiras o tempo todo.

"...Depois de ter você,
Poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas..."



Seus dedos dedilhavam sozinhos,
E nada mais fazia sentido neste momento.
Ela o queria, e o desejava demais.
Além do imaginado um dia.
Estava aborrecida.
E dedilhou mais alguns versos da música de sua banda, mas nada se encaixava, nada a inspirava, seus anseios eram outros, suas vontades, andavam falhas, e seus projetos, despencavam com uma velocidade absurda.
Ela o queria.
"...Se é noite ou faz calor,
Se estamos no verão,
Se o sol virar ou não,
Ou para que é que serve uma canção,
Como está?..."


Ela resolveu então, largar a guitarra, deixar o estúdio, e descer aqueles íngremes degraus, com o celular na mão. Ao chegar na calçada, começou a andar de um lado para o outro, sem saber exato o que fazer, qual número discar.
Seu coração palpitava, e ela, resolveu fazê-lo.
Primeiro toque.
Segundo toque.
Tercei...
Ele atendera. Ela, quase desesperada o convidou para um café rápido, antes do ensaio, ele, disse que estava ocupado, teria dez minutos no máximo, ela desistiu e ia se despedir, quando olhou para o outro lado da calçada e enxergou o que tanto desejava: ele.
Desligou o celular lentamente, sentindo-se corar, e o olhou, com timidez absurda.
Ele sorriu, atravessou a rua, e a abraçou, sem palavras, sem sons.
Subiram os degraus íngremes, de mãos dadas, e ele a observou muito de perto, quando entraram no pequeno e singelo estúdio. Ela ia pegar a guitarra, ele a deteve, e a encostou na parede. Ela se movia com ele, para ele. Ele, a beijou.
E a tarde se seguiu contente e extasiada.

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Trechos da música "Cantada"- Adriana Calcanhoto.

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