13.9.09

Brincadeira

Eu já sei,
Quando acordar, o cheiro do café não estará entrando no meu quarto,
Eu já sei,
Quando acordar, o seu rélogio de pulso não estará na mesinha de cabeceira,
Eu já sei,
Quando acordar, não irei escutar o barulho do chuveiro,
Eu já sei,
Quando acordar, não irei observar o modo como você respira,
Pois é, eu sei,
Quando acordar, você já terá ido.

Ainda não sei,
Como você aguentava as minhas tolas palavras,
Ainda não sei,
Como você aguentava aquelas minhas gargalhadas estranhas,
Ainda não sei,
Como você aguentava minhas drásticas mudanças de humor,
Ainda não sei,
Como você conseguia tomar aquele café que eu havia feito há dias,
Eu, ainda não sei,
O que lá você fazia.

Aliás, eu sei bem, o que nós dois lá estávamos fazendo,
Estávamos brincando de se gostar,
Brincando de se amar,
Brincando de se tocar,
Brincando de se olhar,
Brincando de se testar.

Aliás, eu sei bem, o que nós dois ainda fazemos,
Nós brincamos de se machucar,
Brincamos de se magoar,
Brincamos de se chocar,
Brincamos de nos odiar,
Brincamos de nos afastar.

Ainda insistimos nesta tola brincadeira de nunca dizer o que é de verdade, ou que é de mentira.
Ainda insistimos em apenas deixar acontecer.
Ainda insistimos em fazer valer.


-Marina Queiroz